Em parceria com a iniciativa privada, a Prefeitura de Campo Grande lançou na manhã desta sexta-feira (11) o aplicativo ‘Todos no Ônibus’. Pioneiro no país, o aplicativo vai atender de imediato 523 pessoas com deficiência visual, ou com baixa visão, que são usuários do transporte coletivo e são cadastrados no Consórcio Guaicurus. O objetivo é facilitar o deslocamento desse público, promover a inclusão social e a acessibilidade.

Usuário do transporte coletivo Valdir Antônio Lustosa, aposentado e atleta voluntário, acredita que o app vai cumprir seu papel.

“Ele vai dar autonomia e independência. Muitas vezes estamos no ponto de ônibus e dependemos de terceiros para nos ajudar. Acaba que a gente perde compromisso, ou pega ônibus errado e quando percebe já é tarde. Agora vou poder confiar no aplicativo, não vou depender de ninguém. Vou poder me organizar melhor”, comemora.

@400A4785O cantor e compositor Márcio Cafure, que tem baixa visão, também acredita que o aplicativo trará autonomia.

“Não só autonomia, como segurança. Às vezes, estamos no ponto de ônibus e passamos por constrangimentos, porque as pessoas não confiam mais nas outras. Vai se efetivar nosso direito de ir e vir”, diz.

É na busca do direitos de todos os cidadãos, de governar para todos que o prefeito Marquinhos Trad fez parcerias e cumpriu mais uma meta de seu Plano de Governo.

“Uma cidade não tem dono, uma cidade não pode e não deve ser administrada sozinha, uma cidade não se conjuga no singular. Quando se faz um programa de governo você tem que incluir todos aqueles que participam dela. E a partir do momento em que se administra envolvendo a comunidade todos ganham, todos crescem. Por isso, o nome deste programa “Todos no Ônibus”. A cidade é de todos, a cidade não tem dono, e assim estamos caminhando”, diz.

Conforme o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 24 da população brasileira tem algum tipo de deficiência, desta 40% representam o grupo de deficientes visuais (parcial ou total). Em 2012, o poder público municipal vislumbrou a intenção de aplicar algo semelhante ao que foi lançado hoje, contudo não saiu do papel.

Presidente do Instituto Sul-mato-grossense para Cegos Florivaldo Vargas (Ismac), Márcio Ximenes Ramos, lembra que faltava vontade política para resolver a questão.

@400A4761“Já havia algo desenvolvido, mas não evoluia. Ai veio o Ministério Público, depois veio ADVMS e passamos todos a desenvolver, com prazos, com metas e hoje estamos aqui, para viver esse grande momento e garantir o nosso direito de ir e vir. E servindo de exemplo para todo o Brasil! Existem outros aplicativos por ai, mas não com um aparelho celular, que todos hoje têm em mãos. Não teremos que usar nenhum outro acessório”, comemora.

Da Associação dos Deficientes Visuais de Mato Grosso do Sul (Advms), Silvan Cardoso de Azevedo, conta que muitas pessoas que o vê na rua não imagina a dificuldade que ele tem para usar um transporte coletivo, por ter baixa visão.

“Apesar de eu ainda ter visão, ela não é o suficiente para ler o itinerário de um ônibus. Já passei por situações vexatórias. A vinda desse aplicativo vai facilitar a vida gente, ele vem proporcionar a acessibilidade para todos nós”, diz.

Este foi o maior objetivo. Que não só cumpre um papel de cidadania, como de respeito à pessoa humana. Para o promotor de Justiça Eduardo Henrique Cândia o mais importante é que o aplicativo foi construído a partir da visão de quem irá utilizá-lo.

“Não é um produto definitivo, pronto e acabado. É orgânico. Ele está sendo apresentado de forma brilhante, mas vai depender muito do feedback, do retorno. A tecnologia tem vida própria. Esse aplicativo tocou em um ponto fundamental que o Estatuto da Pessoa com Deficiência defende que é a autonomia da pessoa com deficiência, é a independência da pessoa com deficiência. E esse aplicativo vem nessa linha, ele dá autonomia para quem vai utilizá-lo”, completa.

@400A4766Presidente do Consórcio Guaicurus João Rezende salienta que Campo Grande está fazendo diferença na qualidade de vida das pessoas.

“Isso só foi possível pelo entrosamento que existe entre o poder público e iniciativa privada”, diz.

Foram parceiros do projeto o Consórcio Guaicurus, o Ismac, a Advms e o Ministério Público Estadual, por meio da 67ª Promotoria de Direitos Humanos de Campo Grande.

Como vai funcionar?

O diretor presidente da Agência Municipal de Tecnologia da Informação e Inovação Paulo Fernando Cardoso explica que todas as 189 linhas de ônibus estarão disponíveis para receber os usuários com o uso do aplicativo. Para usar o aplicativo é preciso baixá-lo na loja do Google, mas primeiro tem que estar cadastrado no Consórcio Guaicurus.

Ele ainda explica que dentro do cronograma que a Agetec gerenciou foi feita orientações às pessoas com deficiência visual e com baixa visão para se habilitarem para baixar o aplicativo.

“Isso acontece porque o motorista saberá na hora o nome do usuário, vai haver uma troca de informações entre os dois. Mais pra frente isso será aberto para outras pessoas utilizarem também, como, por exemplo, idosos e cadeirantes”.

Com o uso de um tablet, ou do celular, o usuário vai solicitar a linha e o motorista será avisado por um aviso sonoro. O motorista terá o registro do ponto onde estará o usuário e, ao chegar ao local, o mesmo irá chamar o passageiro pelo nome. É um conjunto de soluções que alia tecnologia, conectividade e ação humana.