“Queremos formar políticos, desembargadores, ministros e gestores negros. Eles não podem ser uma exceção, mas sim, uma regra em nossa sociedade. Para isso devemos incentivar o estudo e a leitura entre as crianças. Temos que formar cidadãos capacitados”.

Foi com essa afirmação contundente e enaltecendo a riqueza da cultura afro-brasileira, que o presidente da Fundação Cultural Palmares, órgão ligado ao Ministério da Cultura, Erivaldo da Oliveira, iniciou sua visita ao Centro de Educação Infantil Tia Eva, localizado na comunidade quilombola urbana que leva o nome de sua fundadora.

Acompanhado por lideranças do bairro e representantes do município e estado, além de membros de conselhos representativos de comunidades negras, o presidente da Fundação conheceu o trabalho de valorização da cultura afro-brasileira desenvolvido pelo Ceinf Tia Eva e prestigiou as atrações culturais apresentadas pelas 48 crianças, entre três e seis anos, atendidas na unidade.

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O grupo esteve por dois dias na Capital, participando de debates com lideranças negras e visitas a comunidades quilombolas. O objetivo é ouvir as reivindicações dos grupos, que buscam uma política igualitária e inclusiva e levar as propostas a gestores das esferas federal, estadual e municipal.

O presidente disse ter ficado satisfeito com o nível de conscientização da comunidade escolar e adiantou que vai viabilizar a entrega de obras literárias pertencentes ao acervo da Fundação Palmares, que conta com 26 mil títulos, para o Ceinf Tia Eva.

“Temos que incentivar o estudo, não apenas entre as crianças, mas entre os adultos também. A busca pelo conhecimento deve ser contínua. Só assim saímos da ignorância”, ressaltou.

Erivaldo da Oliveira ainda elogiou o trabalho da Reme em capacitar os professores no sentido de orientá-los sobre a maneira de abordar a temática afro-brasileira nas escolas. “É fundamental este trabalho. As crianças precisam ter orgulho de suas raízes”, disse.

Após os números musicais, a diretora da unidade, Cleidevana Maria Chagas, entregou ao presidente da Fundação uma pintura com tema afro-descendente e destacou que entre os projetos culturais desenvolvidos no Ceinf, está a produção de desenhos e artesanato baseados em histórias que valorizam as raízes africanas.

A diretora acredita que o desenvolvimento dos projetos vai além da valorização da cultura afro-brasileira, contribuindo, também, para a disseminação de uma política de respeito entre os alunos. “Aqui não temos apenas alunos da comunidade quilombola e nosso trabalho acaba mostrando as crianças de fora da comunidade que todos somos iguais, além de ensinar sobre respeito”, afirma Cleidevana.

Interesse

A técnica do Núcleo de Relações Étnico-Raciais e de Gêneros da Semed, Silvia Paixão, disse durante um debate com lideranças negras, que a Reme desenvolve um trabalho, com base na lei 10639 de 2003, de orientação aos professores sobre como trabalhar as questões afro-brasileiras em sala de aula.

“Para nós foi muito importante participar desse evento porque pudemos destacar o trabalho que acontece em nossas escolas e a maioria da população não sabe”, disse.

Segundo ela, 54 mil, de 100 mil alunos da rede municipal, se declararam negros ou pardos. Por isso a importância de enaltecer a cultura afro-brasileira. Ela explica que as escolas que desejam receber a formação oferecida pela Semed deve entrar em contato com a Divisão de Educação e Diversidade, que também orienta quanto a abordagem de questões indígenas.

O objetivo é conscientizar os professores sobre a importância de realizar atividades contínuas e multidisciplinares durante o ano todo e não apenas em datas pontuais, como o mês de novembro, quando se comemora o Dia da Consciência Negra.

Silvia Paixão também destaca que é preciso falar das personalidades negras de forma natural nas aulas. A técnica está confiante no crescimento das capacitações. “Estamos muito satisfeitos com a abertura ao nosso projeto da nova gestão e com o interesse das escolas”, enfatiza.

Além de garantir um trabalho coeso na Reme, a abordagem das questões afro-brasileiras contribui, na opinião da técnica, para o fim de atitudes racistas. “Tudo o que a criança aprende na escola ele leva para casa, disseminando esse respeito. Elas precisam ter consciência que são descendentes de pessoas que foram escravizadas e não de escravos. Na história africana também há reis e princesas e isso tem que ser mostrado”, conclui.