Com foco na motivação, valorização do indivíduo e resgate da autoestima, a equipe do Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante (Cetremi) criou o projeto “Cine Inclusão”, que todo mês irá proporcionar na unidade, a exibição de um filme de cunho pedagógico, escolhido pelos próprios usuários do serviço.

A estreia do projeto aconteceu na noite dessa terça-feira, com o filme “O menino que descobriu o vento”, do diretor Chiwetel Ejiofor, e que narra a história verídica de um garoto africano que conseguiu, depois de frequentar de forma clandestina a biblioteca da escola, construir um moinho de vento para captar água do solo da região onde morava, no Malawi, combatendo a seca enfrentada pela comunidade local.

Apesar dos infortúnios e dificuldades, o menino, que na vida real se chama William Kamkwamba, conseguiu estudar nos Estados Unidos e se formou em Engenharia Ambiental e hoje realiza diversas conferências mundiais. A temática inspiradora comoveu as 50 pessoas que atualmente estão acolhidas no Cetremi.

“Passei a noite toda pensando nas mensagens do filme. Foi muito maravilhoso porque ele fala de superação e incentiva a gente a buscar nossos objetivos. Achei a ideia excelente da equipe”, disse o professor de boxe, Edgar de Moraes Villalva, que há dois meses está acolhido no Cetremi e trabalha para retomar sua carreira. “Estou recebendo toda a ajuda que preciso aqui e em breve espero ter um emprego e conquistar minha casa de novo”, ressaltou.

Utilizar a cultura como instrumentos de inclusão social e de fortalecimento das relações interpessoais foi o caminho escolhido pela equipe do Cetremi na criação do projeto, que também inclui uma roda de discussão após a exibição dos filmes.

A dinâmica foi acertada e o resultado superou as expectativas da equipe. Segundo o coordenador do Cetremi, Odair de Jesus Martins, e a psicóloga Talita Delmondes, a primeira noite de exibição, que aconteceu seguindo todas as medidas de biossegurança, resultou em uma discussão acalorada com a plateia sobre relações pessoais, metas e superação.

“Além de levar a reflexão, a intenção do projeto é proporcionar cultura e combater a ociosidade, utilizando o tempo de forma produtiva. Nós trabalhamos para capacitar as pessoas em todos os aspectos, fazendo com que ela entenda sua realidade, descubra suas potencialidades e busque a melhora de vida”, destacou Odair.

Para a psicóloga Talita, entender as mensagens de resiliência do filme, mas ao mesmo tempo focar na conquista de meios para mudar a própria realidade, facilita o trabalho de rotina na unidade. “Nossa intenção é levar a pessoa acolhida na unidade a compreender que ela também pode sair da condição atual e progredir, por isso filmes motivadores e que despertam sentimentos de esperança e superação ajudam neste trabalho”, explicou.

Dinâmica

Ao chegar no Cetremi, o acolhido passa por uma entrevista para que a equipe identifique suas necessidades e faça o encaminhamento adequado. Na unidade eles recebem quatro refeições diárias e um atendimento psico-jurídico-social. A equipe também intermedeia vagas no mercado de trabalho e busca fortalecer os vínculos familiares do acolhido, promovendo sua recondução ao ambiente familiar, quando possível.

Para que a assistência seja completa, a equipe técnica busca a implementação de projetos nas mais diversas áreas e que também têm como foco, a capacitação da pessoa em uma atividade geradora de renda. Entre as próximas iniciativas que estão prestes a virar realidade no espaço, está um projeto sobre o cultivo e prática de hortaliças e outro de transformação de palets de madeira em móveis e objetos de decoração.