Uma ida ao mercado do bairro para fazer compras ou uma simples conversa com a família e amigos, são atividades rotineiras que podem se tornar difíceis para as pessoas que não concluíram ou sequer iniciaram o processo de alfabetização. No entanto, para moradores do Jardim Anache, atendidos pela ONG Movimento Social Campo-Grandense e que não concluíram seus estudos, essa realidade está prestes a ser modificada.

Durante visita a sede da ONG, a secretária municipal de Educação, Ilza Mateus, anunciou que no segundo semestre, será aberta uma sala, na própria entidade, para atender alunos em parceria com o projeto “Brasil Alfabetizado”, do Governo Federal.

A implantação da sala, que será a primeira do ano aberta em parceria com o Governo Federal, foi um pedido da própria comunidade. O último ciclo de atendimento pelo “Brasil Alfabetizado” aconteceu em 2014 e atendeu 500 pessoas em toda a Capital.

A secretária explicou que antes da abertura da sala é preciso seguir os trâmites exigidos pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento para Educação). O primeiro passo da Semed (Secretaria Municipal de Educação) será abrir o processo de inscrição para os profissionais que irão ministrar as aulas de alfabetização, o que deve ocorrer em julho.

Em seguida, eles passarão por uma formação para, na sequência, iniciar as aulas, que serão oferecidas a pessoas com mais de 15 anos.

A secretária Ilza Mateus ressaltou que as mulheres do bairro integram grande parte dos interessados em frequentar as aulas

“Temos um grande número de mulheres que gostariam de ser alfabetizadas e por isso elas pediram a sala do programa. Fiquei muito feliz em ver esse interesse, pois o estudo significa independência. Mesmo que seja necessário levar um filho ou um neto para a sala de aula, não devemos desistir”, comentou.

De acordo com o presidente da ONG, José Ferreira Rocha Neto, conhecido como José do Anache, mais de 25 pessoas assistidas pelo Movimento Social estão interessadas no curso de alfabetização. Ele contou que muitos usuários da instituição são idosos e não possuem nenhum tipo de formação.

“Muitos ficam constrangidos de entrar em uma sala de aula com alunos de menor de idade, por isso é importante uma classe com pessoas da mesma faixa etária para facilitar o aprendizado”, afirmou o presidente.

“Ficamos felizes que essa nova gestão abraçou nossa causa. A instituição já conta com material como mobiliário e lousa, só faltam os profissionais”, disse José do Anache.

A ONG Movimento Social atende cerca de 120 famílias por semana através de projetos como o Mesa Brasil, Grupo de Vivência de Apoio as Famílias e o Acolhida, que oferta atendimento jurídico à população.

 

Novo mundo

A empregada doméstica Eva Arantes Barbosa, de 59 anos, conta que concluiu somente as séries iniciais, o que implica em muitas dificuldades quando precisa executar alguma tarefa, como a leitura de rótulos ou até o valor dos produtos.

“Eu queria tentar voltar a estudar para não ter dificuldade em ler o que está escrito nas coisas do comércio. Quero aprender a falar melhor também. Eu só sei assinar meu nome. Para mim, será tudo novo. Sabendo ler um pouco, já me sentirei outra pessoa”, destacou.

A dona de casa Lener Marques, de 42 anos, comenta que parou de estudar ainda na infância e a sua meta é retomar os livros para aprender matemática e ajudar os filhos na escola.

“Eu parei na terceira série, casei, tive filhos e não voltei mais a estudar. Quero aprender a conversar melhor também”, pontuou.