No ano em que Campo Grande completa 122 anos, a primeira rua da capital também vai ganhar um presente à altura. A Rua 26 de Agosto faz parte do quadrilátero central que está sendo requalificado pelo Programa Reviva Campo Grande e, para ela, estão previstos vários benefícios como padronização de calçadas, recapeamento, microdrenagem, iluminação em Led, instalação de mobiliário urbano, fibra óptica, wi fi gratuito, câmeras de segurança, acessibilidade universal, além de paisagismo, trazendo conforto térmico à região. Mas, e você, conhece a história da rua que recebeu como nome a data de aniversário da capital e é cercada de pioneirismo? Vamos fazer uma viagem no tempo?

Rua 26 de Agosto: a vanguarda de Campo Grande

Uma única rua de terra batida, com casas simples e sem energia elétrica ou abastecimento de água, com cerca de 300 moradores. Esse é o retrato de uma Campo Grande bem diferente da que encontramos hoje em dia, com seus prédios altos, carros e motos aos montes nas ruas, pessoas por todos os lados e comércio dos mais variados.

Essa única rua não tinha nome, mas era o elo entre a vila que acabara de nascer e o resto do Campo de Vacarias, que tinha duas regiões rurais: a do Cascudo, ao norte, e Mata do Segredo, ao sul. Os produtores dessas fazendas eram subordinados aos que viviam na rua sem nome, pois eram eles que tinham o poder de decidir os rumos que a vila iria tomar.

Foi palco de diversos pioneirismos de Campo Grande. Por exemplo, onde hoje é o Edifício 26 de Agosto, antigamente era a casa do primeiro prefeito eleito da cidade, bem como seu gabinete e a primeira Câmara de Vereadores.

A vanguarda da Rua 26 de Agosto pode ser percebida também no fato de que foi ali que instalaram o primeiro açougue; o primeiro estúdio de fotografia, pertencente ao francês Albert Braud; a primeira escola da vila. As primeiras árvores da cidade também foram plantadas nesta rua, nas esquinas das avenidas Calógeras e Afonso Pena.

Com a chegada de imigrantes italianos, árabes, portugueses, espanhóis e de brasileiros vindos de todas as partes, a pequena rua sem nome começou a ter um comércio movimentado por conta dos pequenos bares, estalagens e restaurantes que atendiam os viajantes e boiadeiros que por lá passavam.

Nessa época, alguns conflitos entre vizinhos eram comuns e ocorriam por diversos motivos como delimitação de terras particulares, o mau uso do rego d’água que abastecia a vila, animais soltos na rua ou o descarte de lixo e dejetos.

Para amenizar os ânimos, em 1905 foi proposto e elaborado pela Câmara de Vereadores um código de conduta que regulava as ações que impactam no bem-estar social, norteando a vida em comunidade. A vida campo-grandense seguia nesse pedaço de terra sem nome e nem asfalto.

A primeira planta de arruamento da Vila

Em 1906, em uma das sessões da Câmara, ficou decidido que o agrimensor francês Emílio Rivasseau ficaria responsável por dar o traçado das ruas que seriam criadas e, também, faria a delimitação entre os espaços públicos e privados. Contudo, por razões até hoje desconhecidas, ele acabou não executando o projeto conforme o planejado.

Assim, foi apenas em 1910 que Nilo Javary Barem, o primeiro engenheiro de Campo Grande, projetou a expansão da cidade. O projeto levou em conta os planos de requisitar ao Presidente da República, Afonso Pena, a mudança de rota da linha férrea para que o trem passasse por Campo Grande.

E assim foi feito. Mudou-se o trajeto da linha do trem de Bauru/Cuiabá para Itapura/Corumbá, o fazendo passar pela vila em desenvolvimento. Com a passagem do trem já estabelecida em Campo Grande, houve mais um grande fluxo migratório, tanto de pessoas que buscavam melhores condições de vida, quanto de funcionários da Companhia de Trem Noroeste do Brasil, empresa responsável por instalar e operar a Estação Ferroviária na cidade.

Por estar mais próximo do circuito que englobava a ferrovia, a rua 14 de Julho, que antigamente era apenas um beco, foi atraindo o comércio e as estalagens por conta do grande número de pessoas que agora passavam por lá. Dessa forma, proprietários de casas comerciais na 26 de Agosto fizeram a migração para a 14 de Julho, que tinha grandes promessas de se tornar a rua que é hoje, consequentemente deixando a Rua Velha esquecida.

Porém, nesse ínterim, o projeto de arruamento da cidade progrediu com demarcação do espaço público e privado e de novas ruas, fazendo a rua sem nome ser conhecida como Rua Velha que, posteriormente, foi batizada de Afonso Pena em homenagem ao presidente que trouxe a Companhia Ferroviária para Campo Grande.

A partir desse mesmo projeto foram criadas e nomeadas as ruas José Antônio, Padre João Crippa, Pedro Celestino, Rui Barbosa, 13 de Maio, 14 de Julho, Avenida Calógeras e rua Anhanduy. Além das vias transversais Sete de Setembro, 15 de Novembro.

Em 1916, foi decidido que a Afonso Pena passaria a ser chamada de Rua 26 de Agosto, e a Avenida General Hermes, receberia o nome de Afonso Pena, como ainda é chamada até hoje. Hoje, importante corredor do transporte coletivo, a 26 de Agosto está prestes a ser revitalizada, começando uma nova história.