A Prefeitura Municipal vai colocar em prática um projeto pioneiro no País, visando um olhar social e apurado em direção às pessoas que hoje se encontram em situação de rua em Campo Grande. Neste sentido, o Executivo tem atuado para a implantação do projeto ‘Campo Grande Acolhedora’, que através de uma política intersetorial, envolvendo todas as secretarias e autarquias públicas da Capital, pretende articular uma rede de proteção e cuidado para pessoas e famílias vulneráveis.

A iniciativa foi apresentada nesta quinta-feira (22), na Câmara Municipal, quando o secretário municipal de Assistência Social, José Mario Antunes, a convite do Poder Legislativo, fez uso da tribuna para explanar detalhes do projeto, que num primeiro momento abrirá 100 novas vagas em Comunidades IMG_5050Terapêuticas para acolher pessoas em situação de rua e que apresentam dependência de substâncias químicas como álcool e entorpecentes.

A vice-prefeita Adriane Lopes, que coordena a ação junto com o secretário municipal de Governo e Relações Institucionais, Antônio Cézar Lacerda, pondera a dificuldade de convencimento dessas pessoas para saírem dessa situação de rua, principalmente aquelas que estão sob efeito de substâncias químicas.

“Num primeiro momento, falar em 100 vagas parece pouco, mas o fato é que existe uma grande resistência por parte das pessoas que estão nas ruas. Elas não aceitam ajuda, não aceitam serem levadas e a legislação não permite que o Poder Público afronte a liberdade dessas pessoas. É preciso ter muito cuidado para lidar com essa questão, já que é uma escolha do indivíduo. O que estamos fazendo é melhorando as ferramentas e redobrando todos os esforços para convencer essas pessoas e promover essa mudança na vida delas”, justifica a vice-prefeita.

O ‘Campo Grande Acolhedora’ abrirá chamamento público para apoiar as comunidades terapêuticas da Capital que se habilitarem a receber as pessoas em situação de rua e que são dependentes químicos. Os encaminhamentos serão feitos pelas equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social – Seas, que desde a década de 90 realiza busca ativa que identifique a incidência de pessoas em situação de rua, dentre outras.

Adriane Lopes chama atenção para essa problemática, que até os dias atuais não encontrou uma solução diante da burocracia e dificuldade dos gestores identificarem qual é o setor responsável pelas ações no sentido de amparar pessoas com dependência química e que vivem nas ruas. Para ela, a situação é lamentável, uma vez que já se arrasta há décadas e até hoje ninguém, de fato, conseguiu avançar nesta questão.

“O fato é que ao surgir um problema na área de enfrentamento a dependência química, ninguém assume a responsabilidade, já que cada área dentro do setor público tem suas limitações para adentrar nesta questão, devido às suas legislações e uma série de burocracia. O resultado dessa inércia: essas pessoas estão doentes e permanecem nas ruas. O que estamos apresentando é um trabalho conjunto, envolvendo todos os setores. A proposta é parte do plano de governo da atual gestão, que pretende buscar todas as alternativas para, de fato, enxergar essas pessoas em situação de rua e que são dependentes químicos, devolvendo-lhes a dignidade e, assim, suas vidas”, defende a vice-prefeita de Campo Grande.

De acordo com o projeto, o chamamento público para as comunidades terapêuticas será feito através da Secretaria Municipal de Governo e Relações Institucionais, que formalizará o convênio por meio da Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos – SDHU. De acordo com o secretário de Assistência Social, atualmente cerca de 25 entidades atuam em Campo Grande como comunidades terapêuticas.

“A finalidade é que essas pessoas acolhidas sejam assistidas dentro de sua integralidade, não apenas para tratar a dependência, mas a partir da superação dela, cada um tenha oportunidades para que haja um resgate dessa vida e que, ao sair da comunidade terapêutica, esse cidadão ou cidadã tenha todo o amparo para que não volte às ruas”, explica José Mário.

@2O comitê intersetorial – que envolve a SAS, Segov, Sesau, SDHU, Funsat, Emha, Semed, Funesp, Sectur, Sesdes e Sefin – se reuniu nesta semana para acertar os detalhes do projeto. Cada representante apresentou as propostas dentro de sua área, que fará parte do projeto ‘Campo Grande Acolhedora’. “Nosso desafio enquanto município é consolidar um sistema universal, redistributivo e de qualidade, na contramão dos efeitos da crise nacional, articulando uma rede de proteção e cuidado para essas pessoas que hoje não conseguem por conta própria sair das ruas diante do estado de dependência química no qual se encontram”, justifica Adriane.

“Para que haja êxito neste projeto, é necessária uma mudança de paradigmas para que sociedade perceba aqueles que se encontram à margem de seus direitos, os chamados “invisíveis””, finaliza o secretário de Assistência Social de Campo Grande.

Ações concretasIMG_5087

Além da ação de abordagem e acolhimento do Serviço Especializado em Abordagem Social – Seas, a Secretaria Municipal de Assistência Social – que atua diuturnamente nas ruas de Campo Grande e encaminha as pessoas acolhidas para o Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante e População de Rua – Cetremi e para o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua – Centro Pop – lançou recentemente a campanha “Onde a esmola acaba, o direito começa – Não dê esmola”, que busca incentivar as pessoas a não darem esmolas, já que tal atitude colabora para a permanência das pessoas nas ruas e cria a ilusão de que é possível viver da mendicância.