Andar pelo coração comercial de Campo Grande ficou muito mais agradável depois da grande festa de entrega da Rua 14 de Julho, que correu em novembro de 2019. Desde então, a população vem aproveitando a nova infraestrutura da via. A fiação suspensa, que tanto incomodava a paisagem, foi embutida e o cenário agora é embelezado com mobiliário urbano, paisagismo e novas calçadas.

A dona de casa Vera Lúcia Silveira Maia avalia que a requalificação trouxe mais comodidade para todos. “Muito bonita, gostei das calçadas, dessas flores, das árvores. Ficou bem melhor, eu vim ao dentista e, por causa da Covid, não quero ficar lá dentro do consultório, então posso ficar aqui nos bancos, tranquila, coisa que era impossível antes”.

Um ano depois, o paisagismo que trouxe para a cenário de concreto mais de 180 árvores do cerrado, já está deixando a rua bem mais bonita e fresca. Foi esse atrativo que chamou a atenção da artesã Neuza Melo. “As calçadas ficaram boas, mais largas, mais tranquilas para andar, mas a arborização ficou muito especial né, porque precisa, é muito importante para a cidade”.

Depois de 17 meses de obras, a 14 de Julho se transformou em um marco para a administração municipal. “Foi a obra mais complexa já feita em todos os sentidos e ainda entregamos antes do fim do prazo. Estávamos na região central, trabalhamos com grandes estruturas em um trajeto bem extenso e estamos felizes que a população se apropriou dela com muito carinho. Percebemos que, apesar da pandemia, o fluxo de pessoas aumentou, elas têm mais confiança em andar em um espaço público aberto, confortável. A requalificação da rua trouxe uma nova dinâmica para a área central”, reforça a coordenadora do Reviva Campo Grande, Catiana Sabadin.

Carlos Lucas Mali é arquiteto e Urbanista, Conselheiro Superior do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e Membro Representante do Brasil do Grupo Internacional “Requalificação Urbana em Centros de Cidades”, da União Internacional de Arquitetos (UIA). Para ele, a obra de reurbanização da Rua 14 de Julho cumpriu o seu proposto, reordenando as vias públicas tanto para pedestres quanto veículos, dando um novo visual a uma área quase degradada, retirando elementos poluentes visualmente e trazendo conforto ambiental aos transeuntes. “Essa reurbanização trouxe um novo olhar das pessoas sobre a cidade. O que se percebe é que, aos poucos, a população vai se incorporando à proposta”.

O Reviva veio antecipando esse novo olhar sobre as cidades e isso acabou coincidindo com o que é necessário neste momento, o distanciamento social. O que as cidades estão fazendo para se adaptar hoje por conta do coronavírus é, justamente, o que foi feito na 14. O centro, de certa forma, se beneficia por se tratar de uma via pública e não de um ambiente confinado, como os shoppings, por exemplo.

Para o arquiteto, a pandemia trouxe uma nova forma de enxergar os espaços públicos, tanto para os que projetam o urbano, quanto para quem administra. Mali acredita que, passado esse momento, a Rua 14 de Julho e o Centro em geral precisam de incentivos para atração ao lazer cultural, principalmente em horários não comerciais.

Presente em todo o processo da 14 de Julho, a consultora, arquiteta e professora de Arquitetura Neila Janes Viana Vieira explica a importância de requalificar um espaço público. “A requalificação gera a reabilitação do espaço público porque devolve ao lugar todas as possibilidades de uso que ele já tinha. Com a requalificação das estruturas e infraestruturas, ele volta a ter a capacidade de cumprir com seu papel, com as suas funções de circular, de permanecer, é o local do encontro, das compras, do lazer, da diversão, da permanência, da contemplação. Todas essas atividades são atribuições do espaço público que, com o tempo, elas se perdem porque o espaço perde qualidade. Com a requalificação, ela proporciona voltar a essas atividades, a garantir o exercício do direito de ir e vir”.

Novos empreendimentos

No mês passado, Mato Grosso do Sul abriu 766 novas empresas, melhor resultado para o mês da série histórica iniciada em 2008, puxado pelos setores de comércio e serviços. Os dados são da Junta Comercial de Mato Grosso do Sul (Jucems) e confirmam uma leve tendência de recuperação da economia do Estado, mesmo atravessando uma pandemia. O comércio abriu 261 empresas. “São números animadores, que mostram que estamos seguindo uma tendência nacional nesta pandemia, do crescimento do empreendedorismo”, diz a economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio-MS (IPF-MS), Daniela Dias.

Empreendedoras como Jaqueline Oliveira, que veio de Goiânia para abrir uma loja de roupas de bebê há menos de 15 dias. A filha mora em Campo Grande e quando viu que a rua ficou mais bem estruturada, deu a ideia para os pais investirem. “Em Goiânia não tem esse modelo de quadra setorizada, com lojas de produtos específicos para bebês, como é aqui. A gente gostou e montou a loja, já que temos confecção própria. Nossa, estou adorando tudo, a rua, os banquinhos, espero que as vendas sejam muito boas nesse fim de ano”.

Os números mostram que o comércio já está reagindo diante da pandemia. O índice de volume de vendas no comércio varejista de Mato Grosso do Sul foi 1,2% maior em setembro, quando comparado ao mês de agosto deste ano, segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice de volume de vendas é o que realmente aponta se houve melhora no setor, pois demonstra um aumento real de compras, por se referir a unidades físicas.

Quem também aguarda ansioso um Natal mais “recheado” de vendas é o gerente da loja de confeitaria Chef Confeitar, Vander Ferreira. Aberta há dois meses, na esquina da 14 de Julho com a Antônio Maria Coelho, o novo endereço foi escolhido justamente por conta da requalificação. “No começo a gente tinha dúvida se ia ficar bom, mas com o decorrer do tempo, constatamos que ficou muito agradável, tanto para os funcionários, quanto para os clientes. Gostei bastante das novas calçadas, sem buracos, mais largas. Está tudo aprovado”.

Na Mix Cosméticos a expectativa é a melhor possível. O empreendimento foi aberto bem no meio da pandemia, há três meses e, com o aumento no movimento nos últimos dias, a gerente Marcela Freitas está otimista com as vendas, ainda mais com o atrativo que a própria rua se transformou. “Com a benfeitoria que fizeram, ficou excelente. Sem aqueles postes, com essas calçadas mais largas, bonitas, ficou muito mais confortável vir ao centro, tanto para passear quanto para comprar”.

Além de confortável, a 14 de Julho está mais acessível, com mais de 2800 metros de faixa contínua de piso podotátil, rampas em todas as esquinas, travessias elevadas em todas as quadras em uma extensão de 1.400 metros, além de sinalização com botoeiras sonoras. E mais segura, com luminárias com lâmpadas de LED, câmeras de vigilância, além de wifi em toda a extensão da rua.

Novas obras

Depois da requalificação da Rua 14 de Julho, o quadrilátero central, que vai da Avenida Calógeras até a rua José Antônio, e da Avenida Fernando Corrêa da Costa até a Avenida Mato Grosso, vai passar por um processo de revitalização que inclui obras menos complexas, sem embutimento da rede, por exemplo. A partir do próximo ano, começam as atividades nas vias, que preveem: instalação de mobiliário urbano, padronização de calçadas, paisagismo, recapeamento, iluminação em LED, Wi-fi. Os projetos visam melhorar a mobilidade urbana, a segurança e a qualidade de vida do cidadão.