No campo da educação o que não falta é força de vontade para aprender. Assim foi com professores da Escola Municipal Fauzze Gattas Filho, que passaram por um treinamento para atender o projeto “Tecnologias Sociais: o pensar, o fazer e inovar na comunidade escolar”. O trabalho é realizado na horta da unidade, com intuito de levar o aprendizado sobre as técnicas de cultivo de hortaliças para a sala de aula e comunidade escolar.

O treinamento com os professores foi realizado de forma prática na própria horta da escola e tem objetivo de incentivar alunos e a comunidade a desenvolver hábitos alimentares saudáveis, através do consumo de produtos sem agrotóxicos; preservar o meio ambiente e  incentivar as famílias a construir, em casa, canteiros para produzir alimentação saudável.

Ao todo, 12 professores participaram da aula técnica e prática, onde foi demonstrado como são produzidas as mudas. Como objeto de estudo, foi utilizado sementes de alface, substrato, água e bandeja de mudas.

Na explicação aos professores, o presidente da empresa da Casa das Sementes, que faz parceria com a escola no projeto, Cristiano Marques, mostrou o passo a passo de como reproduzir corretamente, bem como obter a germinação perfeita, com a profundidade da semente, quantidade de água e a posição certa na bandeja.

“Tendo em vista que os alunos precisam de aulas exteriores, não só em sala de aula, nós precisamos de subsídios para eles e aqui na horta é um aprendizado muito extenso. Aprendemos muita coisa e eles também, com a terra, com a planta e com a natureza”, comentou a professora Mariza Medina Salazar.

A diretora da Escola, Tania Vital, acredita que o treinamento irá agregar aos professores mais qualidade no ensino. “Queremos que eles sejam mais autônomos no momento que eles fazem esses trabalhos com as crianças. Eles partem desde o processo da criação de mudas, utilizando as sementes, até o plantio no solo. Então, para fazermos isso, precisamos treinar nossos professores. Existe todo um conhecimento que eles precisam adquirir para que seja bem sucedido”, explica.

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Pelo celular

A horta atende a Lei Municipal nº 5700/16, que dispõe sobre o reaproveitamento de água pluvial nas escolas públicas da cidade. O método de captação pluvial garante a manutenção do projeto, que tomou amplitude até pelo telefone celular.

O sistema tecnológico utilizado na irrigação é controlado e cronometrado via celular pela própria diretora do Fauzze. “Através do sistema controlado, vejo quantas vezes foi feita a irrigação e ainda posso diminuir ou aumentar a quantidade de irrigação de acordo com o clima”, explica Tania Vital. 

Parceria

O projeto conta com parcerias de instituições privadas e públicas. A Casa da Semente vem desde 2005 trazendo materiais, insumos e estudos técnicos para que as pessoas envolvidas no processo de aprendizado dos alunos e da comunidade possam reproduzir de maneira correta.

Outra parceria é com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Ciência e tecnologia e Agronegócio (Sedesc) que também tem papel fundamental no sentido de oferecer orientações técnicas e participar com  recursos como adubo, calcário, sementes, matérias de irrigação e trator.

Sustentabilidade

Um dos moradores da região, colaborador assíduo da horta na escola, José Gomes da Silva, adotou o projeto como forma de melhorar os hábitos alimentares e também para obter uma renda extra para sua família.

“Eu já trabalhava na escola e a diretora me incentivou a fazer a horta em minha casa para eu ter meu dinheiro. Eu comecei a plantar e está dando certo”, contou.

Mesmo morando em uma pequena casa, Seu Zé, produz legumes e hortaliças sem agrotóxicos ou adubos químicos. O pai de aluno, que hoje virou um pequeno produtor do bairro, utiliza em sua horta mudas geminadas dentro da escola, oferecidas pelo projeto. Como ao lado da sua casa existe uma criação de gado de seu vizinho, ele aproveita para recolher esterco no pasto para adubar sua horta orgânica.

Além de vender as hortaliças aos moradores do bairro, Seu Zé ainda consegue produzir para seu próprio consumo. Segundo ele, há uma procura grande pela comunidade, porque a cultura utilizada nas plantas é totalmente orgânica. A sua é realizada no fundo do seu quintal e em um terreno de um vizinho que ele arrenda. São produzidos rúcula, cebolinha, couve, cenoura, beterraba, alface, milho, salsinha, tomate, batata e quiabo. “Os clientes falam que é o melhor alface que tem, por não ter veneno. Eu vendo para os mercadinhos, os verdureiros da região”, detalhou.

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Para a moradora do bairro, a aposentada Cecilia Lopez da Luz, a horta da sua casa, com mudas recebidas da escola, proporcionou muito mais que saúde. “É uma terapia para a minha cabeça, que eu precisava. Faz um ano já que estou plantando e uso todos os dias na minha alimentação”, declarou.

Controle de vetores

A horta da escola Fauzze Gattas não incentiva apenas o consumo saudável de alimentos. No espaço ainda são produzidas mudas da Crotalária, que atrai uma libélula que é predadora do mosquito Aedes, transmissor dos vírus da dengue, zika e chikungunya.

A mudas são produzidas e distribuídas para a comunidade escolar do entorno da escola e também para outras unidades escolares do município. Algumas escolas que já possuem horta também recebem sementes e treinamento para reprodução de mudas. A comunidade, em alguns eventos escolares, também pode levar a muda, assim também como semente para reprodução em sua própria casa.
Prêmio

O projeto foi inscrito no Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), uma empresa pública,  ao qual foi reconhecido na categoria social, recebendo o valor de R$200 mil. Com o recurso a diretora investiu em tecnologia  e implantou internet física em todas as salas de aula e também wireless, que atende também toda a unidade.