Ela tem 33 anos, é administradora, casada e mãe do Téo, 3 e do João Victor, 7  Naína Dibo Soares, além de uma mãe apaixonada pelos  filhos é uma mulher que lutou contra o preconceito das pessoas, contra seus próprios preconceitos e que não sabia que ao dar à luz João Victor, hoje com sete anos, seria um exemplo de inspiração para muita gente.

João Victor é um garotinho inteligente que tem autismo clássico (conhecido também por Transtorno do Espectro Autista), identificado quando ele tinha dois anos de idade, o que fez com que desde muito cedo enfrentasse desafios. Mas, nada que o amor, o apoio da família e uma boa escola com estrutura adequada colaborassem de forma positiva para a formação, no desenvolvimento e socialização do João Victor, pois foi aí que os problemas dessa família começaram. João Victor é aluno da Escola Municipal Geraldo Castelo e foi nela que sua vida se transformou para melhor.

Do diagnóstico à superação diária

O autismo é um transtorno de desenvolvimento que, geralmente, aparece nos três primeiros anos de vida e compromete as habilidades de comunicação e interação social. “O João Vitor é uma criança incrível e guerreira. O autismo não é uma doença que se descobre através de um exame de sangue, por exemplo. Até os dois aninhos, ele teve um desenvolvimento normal, o comportamento dele não apresentava nenhuma situação que nos chamasse a atenção. Ele adorava fotografia, sorria, olhava para as fotos, ele tinha um desprendimento e interação melhor com as pessoas, com as coisas”, diz Naína.

Com o passar do tempo, segundo Naína, algumas mudanças no comportamento dele começaram a chamar a atenção. “Quando ele foi inserido em uma escola particular, eu percebi que os coleguinhas dele falavam e ele não tinha desenvolvido a fala ainda. Isso me preocupou. Conversei com a professora na época e ela disse que outras duas crianças na sala também não desenvolveram a fala da forma adequada, e que eram autistas. Foi assim que procurei ajuda profissional com médicos especializados em Campo Grande e São Paulo e, após o diagnóstico, comecei entre outras atividades, a inserir as terapias na vida dele”. 

Hoje, João realiza quatro horas diárias de terapia ABA (um método americano denominado “Applied Behavior Analysis” – Análise do Comportamento Aplicada) em casa, que utiliza técnicas de melhor compreensão do comportamento, observa, analisa e explica a associação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem do autista, entre outros tratamentos com fonoaudióloga e também atividades educacionais que a nova escola oferece.

A escola pública e a transformação na vida do João Victor

João enfrentou problemas na escola particular em que estudava desde pequeno e, no início de 2016, João foi para a Escola Municipal Geraldo Castelo e aí muita coisa mudou para melhor. “Ele sempre estudou em escola particular e, infelizmente, apesar de pagar uma escola cara, ele foi convidado a se retirar, pois não houve capacidade, não tinha preparo, não tinha conhecimento e mesmo depois de seis anos na escola, não houve interesse pela permanência dele lá. Até pagar um tutor particular eu ofereci, mas não quiseram aceitar o meu filho”, recorda.

Naína explica que foi muito difícil no começo. “Eu cheguei a ouvir que meu filho jamais aprenderia a escrever seu nome, mas superamos esse momento difícil e eu comecei a procurar informações, ouvir profissionais e me indicaram uma escola municipal que era referência e poderia receber meu filho. Confesso que no início tinha preconceito de colocar o João numa escola pública. Hoje, os meus olhos se enchem de lágrimas, ele está há seis meses na Escola Geraldo Castelo e sei que foi a melhor coisa que aconteceu nas nossas vidas, pois o que ele não aprendeu durante todos esses anos ele está aprendendo na escola municipal”, comenta.

A mãe de João Victor revela que a escola é preparada e tem profissionais extremamente competentes e que amam o que fazem. “O meu filho não sorria, o meu filho não queria ir pra escola e, hoje com a ajuda da diretora, da professora, da tutora, dos colegas e, claro, da estrutura que o ensino público do município oferece, comemoramos cada avanço do João. Hoje, ele escreve o nome dele, está feliz e eu sou uma mãe feliz por isso e vejo o amor que eles tem pelo meu filho”.

Segundo a diretora da Escola Municipal Geraldo Castelo, Priscila Rodrigues de Souza, João foi recebido com muito carinho e as mudanças significativas no comportamento dele mostram que ele está feliz na escola em que estuda. “Nós recebemos todas as nossas crianças com muito amor. Nossa estrutura atende outras 10 crianças, além do João Vitor. Temos profissionais habilitados e com experiência para atender um autista. Todos são amados, recebem toda a atenção que cada um necessita, com acompanhamento pedagógico adequado para cada criança com uma situação especial. Aqui nós trabalhamos, primeiramente, com vínculos de amor, depois oferecemos atividades diferenciadas e adaptadas para que o aluno tenha o máximo de independência possível”, destacou a diretora.

Profissionais e estrutura

Além dos profissionais capacitados, a escola possui uma sala especial para atender crianças com habilidades e condições especiais. “Na escola existe uma sala de recursos específica para atender as crianças com necessidades especiais. Temos uma sala de superdotação que é a única da Rede Municipal de Ensino. A sala de recursos é uma sala que tem muitos materiais pedagógicos para oferecer às crianças, com texturas diferentes, cores que chamem a atenção, brinquedos que incentivem a comunicação, socialização e imaginação. Nossos profissionais são extremamente de ponta, capacitados, todos passaram por uma avaliação da Semed (Secretaria Municipal de Educação), todos são profissionais pedagogos formados em educação especial e inclusiva e sempre fazem cursos de formação continuada para estarem sempre preparados para atender as nossas crianças”, observou a diretora.

Referência em atendimento a autistas

O município de Campo Grande se tornou referência em atendimento a crianças com necessidades especiais. “A Prefeitura Municipal de Campo Grande oferece o que muitas escolas particulares não oferecem, pois está à frente, com profissionais exemplares para atender os alunos e, por causa da forma com que lidam com os alunos especiais, até profissionais de São Paulo já vieram conhecer a nossa estrutura. A educação especial do município é diferenciada, pois tudo que fazemos é feito com amor”, destacou Priscila.

 

Um exemplo de superação

No início da matéria, falamos que a Naína é um exemplo pra muita gente. Ela acreditou na escola pública, ela entendeu que seu filho não era diferente de ninguém, ele apenas tem algo especial e merece acesso à educação, assim como qualquer outra criança. Naína não se considera inspiração para ninguém, ela se considera apenas uma mãe que, assim como qualquer outra, faz o impossível para ver o filho feliz.  “Meu filho tem autismo. Ponto. O meu amor de mãe faz com que eu levante todos os dias da minha vida com forças para me dedicar aos meus filhos. Ele é um exemplo pra mim. Eu aprendo com ele todos os dias, a sensibilidade, as cores, o gesto. João Victor é um exemplo de força”, completou.

“Devemos confiar no poder público, usufruir de um direito que é oferecer o melhor ensino para o meu filho e o melhor pra ele é numa escola pública. Eu sou grata, agradeço a Deus todos os dias por ele estar na escola e vou continuar a fazer o que posso para ver meu filho alegre e sorrindo sempre. Se essa história inspira alguém, ajuda alguém eu me considero uma pessoa de muita sorte por poder compartilhar. Aliás, o João Victor já me diz que tenho sorte na vida por eu ter ele”, disse Naína, que hoje vê seu filho aprender em uma estrutura de ensino que além de oferecer qualidade, oferece uma extensão do amor que o João Victor tem em sua casa.